Após queda em 2018, investimento chinês deve retomar fôlego

Por Marta Watanabe | De São Paulo

Após de uma queda de US$ 11,3 bilhões em 2017 para US$ 2,8 bilhões em 2018, os investimentos chineses no Brasil devem se recuperar neste ano, segundo avaliação do governo federal e de analistas ouvidos pelo Valor. O nível de retomada dependerá do programa federal de concessões e privatizações, da retomada da economia e da continuidade nas sinalizações positivas do governo a Pequim.

Dados preliminares da secretaria-executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex) mostram estabilidade dos investimentos chineses no começo deste ano. De janeiro a março, foram anunciados US$ 785,6 milhões em operações com capital do país asiático, contra US$ 741,7 milhões em iguais meses do ano passado. Os dados da Camex levam em consideração anúncios de investimentos confirmados.

Já a consultoria britânica Dealogic, que faz levantamento de fusões e aquisições realizadas, indica que os investimentos chineses somaram US$ 779 milhões no Brasil no primeiro trimestre do ano. Em igual período de 2018, os chineses não tiveram operações fechadas de fusões e aquisições no país.

Renato Baumann, subsecretário para investimentos estrangeiros da secretaria-executiva da Camex, diz que “muito provavelmente” a vinda do capital chinês reagirá neste ano. “2018 foi um ano atípico em razão das eleições. Os chineses já vêm há algum tempo demonstrando interesse no Brasil. Assim que saírem os novos editais nos próximos meses, provavelmente veremos o gráficos dos investimentos chineses subirem novamente.”

Além de manter participação importante nos grandes projetos de infraestrutura, diz Baumann, os investimentos com origem na China também devem se diversificar. Os investimentos estrangeiros como um todo, segundo o subsecretário, devem se recuperar neste ano, com base em maior confiança na regulação jurídica e na perspectiva de recuperação econômica.

Tulio Cariello, coordenador de análise do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), tem avaliação parecida. Para ele, a queda dos investimentos chineses no ano passado não significa que o interesse de Pequim se reduziu. Em 2018, diz, os investimentos como um todo foram afetados pelo processo eleitoral relativamente mais conturbado que o de períodos anteriores e pela expectativa sobre qual seria o novo governo. “Agora já há um governo estabelecido e a expectativa é que seja retomada a agenda de privatizações.”

Segundo Cariello, o conselho tem acompanhado o interesse da China e a disposição para investimentos está mantida não somente no setor elétrico e nas demais áreas de infraestrutura. Para ele, os projetos greenfield e a diversificação devem ser novas tendências dos investimentos originados do país asiático.

“Além da manutenção de grandes investimentos, o capital chinês deve também ser aplicado de forma mais pulverizada no país”, diz Cariello. Segundo ele, os intensos investimentos chineses no triênio de 2015 a 2017 passam agora por momento de maturação e consolidação no país.

Welber Barral, sócio da Barral M Jorge e ex-secretário de Comércio Exterior, explica que o interesse chinês em grandes projetos de infraestrutura está nos setores de energia e de mineração. “Foram essas áreas que permitiram os picos de investimentos chineses nos últimos anos e que fazem parte da estratégia deles no médio e longo prazos. No curto prazo, o capital chinês mantém os negócios nas áreas de comércio e compras de empresas, além de expandir o que já detêm no Brasil.”

O nível de recuperação dos investimentos em relação a 2018, diz Barral, depende não somente da retomada dos grandes processos de concessão na área da infraestrutura como também por um “bom momento político” nas relações com o governo chinês. “No caso da China, o governo tem mais influência sobre os investimentos do que em qualquer outro país”, destaca.

Para Barral, houve avanço nesse sentido. “As manifestações de integrantes da equipe do governo contra a China claramente diminuíram e as sinalizações são positivas com a viagem que o vice-presidente Hamilton Mourão deve fazer ao país asiático.” Ele avalia que a proposta que deve ser levada por Mourão para reativar a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação (Cosban) é uma sinalização considerada positiva.

Para a retomada dos investimentos não somente da China como de outros países, salienta Barral, é importante também que o Brasil tenha perspectiva de crescimento econômico, algo que neste momento demanda a aprovação da reforma previdenciária.

No ano passado, os investimentos chineses caíram e foram superados pelos de origem italiana, segundo os dados da Camex. Enquanto os investimentos do país asiático somaram US$ 2,76 bilhões, os da Itália totalizaram US$ 3,4 bilhões. No primeiro trimestre desse ano, os italianos avançaram para US$ 4,75 bilhões enquanto os de origem China ficaram em US$ 785,6 milhões, sempre considerando anúncios confirmados de investimento e não a aplicação efetiva ou entrada líquida de recursos. Baumann explica que o desempenho dos italianos no período se deve predominantemente aos investimentos da Enel no setor elétrico.

Além de China e Itália, a Camex levantou também os dados de investimentos dos Estados Unidos, do Japão e da França. Os países foram escolhidos porque a Camex tem memorandos de entendimento e de cooperação com esses mercados. No primeiro trimestre, os investimentos originados do conjunto de cinco países somaram US$ 6,5 bilhões, que incluem também US$ 500 milhões dos franceses, US$ 427 milhões dos japoneses e US$ 24,3 milhões dos americanos.

O boletim da Camex ressalta que, considerando os investimentos oriundos dos cinco países selecionados desde 2013 até o primeiro trimestre deste ano, observa-se uma mudança nas principais origens do capital dos investimentos. Segundo o boletim, no fim da década passada os valores mais expressivos, embora reduzidos, provinham dos Estados Unido. Desde 2010, diz a Camex, há clara predominância dos recursos chineses.

Dentro do grupo de cinco países, o levantamento ressalta ainda a participação dos investimentos japoneses, mais expressivos desde 2010. “Os investimentos franceses sempre estiveram presentes, com participação mais destacadas nos anos de 2007 e 2009, e o grande destaque em 2018 e primeiro trimestre de 2019 é a participação de investimentos italianos”, diz o boletim.

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